Recentemente, passei por uma situação muito muito chata. Uma pessoa conhecida, que está à frente de uma empresa concorrente do Estúdio Tuty, havia copiado um kit criado e produzido por nós. O meu espanto ficou ainda maior quando percebi que o texto de descrição do produto dela havia sido inteiramente copiado do meu site, de forma que a pessoa nem se deu ao trabalho de ler até o final e, por conta disso, acabou deixando o meu e-mail de contato no “produto-cópia” que ela estava vendendo. Mesmo indignada, entrei em contato com a concorrente e expus a situação, mas, infelizmente, ao contrário de admitir o erro, ela foi irônica e disse que não sabia que precisava “pedir autorização” para se inspirar em meu trabalho (assim mesmo, com as aspas) e que só teria sido cópia se ela tivesse usado a foto do meu kit.
O que aconteceu comigo se repete com muita gente, cada vez mais, e infelizmente. Muita gente perdeu (ou nunca teve) a noção de onde termina a inspiração e começa a cópia e, assim, acabam por “criar” cópias, muitas vezes malfeitas, de produtos das empresas que elas admiram. Até que ponto essa pessoa está errada e como a gente pode combater isso?
Já dizia o químico francês, Antoine Lavoisier, que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. E quem faz coro a essa afirmação é o humorista Murilo Gun, que acredita que toda nova ideia é, na verdade, uma salada mista de ideias já existentes, que foram combinadas e adaptadas. Por isso mesmo, ele acredita que a palavra “criatividade” não é boa, porque pressupõem que só é criativo quem cria coisas do zero. Então, para ele, a melhor palavra seria “combinatividade”, ou seja, algo criativo é resultado da combinação de ideias existentes.
A verdade é que a gente nunca faz nada do zero. Desde que o mundo é mundo, tudo é passível de cópia. Porém, fazer uma cópia do outro, sem aperfeiçoar, sem colocar um pouco de você, da sua história, da sua essência, de tudo o que você viveu, é só copiar, nada além disso. No entanto, combinar várias ideias que você coletou ao logo de sua jornada, das suas experiências, de tudo o que você viu, ouviu, pesquisou e, a partir daí, tirar algo único, que é só seu e que tem a sua criatividade envolvida, aí sim você está fazendo um produto seu, mesmo que ele seja um mosaico de pequenas ideias combinadas.
Conceito de cópia e criatividade
Em seu livro “Roube como um Artista”, o autor Austin Kleon também fala sobre esse tema e ela dá algumas dicas de como criar sem copiar. Uma delas nos sugere termos um “arquivo de furtos”. Aqui na Tuty eu gosto de chamar de “pasta de inspiração”. Esse é um lugar para colocar tudo o que você gosta e que um dia pode virar referência para um produto seu. O dia que a criatividade estiver em baixa e que nenhuma ideia incrível surge, basta ir até esse arquivo e dar uma olhada, respirar aquele ar de coisas que você gosta e que pode trazer ideias para você criar coisas novas. Outra dica que Kleon dá é para sairmos um pouco de frente das telas. Embora estejamos na era digital, é importante colocar a cara para fora, sair, fazer coisas, observar pessoas, lugares, buscar referências ao ar livre, porque isso traz um resultado inestimável para a criatividade.
O conceito inicial do livro de Kleon é demonstrar que nada é original. Tudo é roubado. Em uma passagem da obra, ele diz: “o escritor Jonathan Lethem disse que quando as pessoas chamam algo de original, 9 entre 10 vezes elas não conhecem as referências ou as fontes originais envolvidas. O que um bom artista entende é que nada vem do nada. Todo trabalho criativo é construído sobre o que veio antes. Nada é totalmente original”.
Essa ideia é muito importante: ser criativo não é ser original em 100% do que você faz, porque isso não existe. Ser criativo é saber usar as referências que você tem de forma que te faça único no mundo. Aqui está a grande diferença da cópia. Quem copia não tem essa preocupação em ter diferentes referências, então, copia um texto inteiro, uma foto, uma receita, uma parte inteira de uma coisa. Conclusão: quem copia não consegue usar a inspiração como referência para criar o seu próprio produto, mas usa como base de toda a sua criação e é exatamente aí aonde a linha entre inspiração e cópia é ultrapassada.
Não sou nada criativa
Eu comecei esse texto contando uma experiência pessoal e acho interessante terminar da mesma forma. Eu sempre ouvi – e ainda ouço! – das pessoas as seguintes falas: “nossa, como você é criativa”, “nossa, eu queria ter a sua criatividade”. Mas o engraçado é que eu realmente nunca me senti assim. Eu sempre achei que precisava de referência demais para conseguir fazer alguma coisa. Eu sempre olhava os outros e pensava: “nossa, como essas pessoas conseguem ser tão criativas, tão naturalmente, e eu preciso de tantas referências”.
Até que eu descobri que não era bem assim. Todas as pessoas precisam de muitas referências para serem criativas. Descobrir e entender isso foi muito importante para me aceitar como uma pessoa criativa. Hoje, eu acho que sou, sim, uma pessoa criativa e não é porque eu sou 100% original. Não é isso. Na verdade, não sou e não acho que deva ser. Eu acredito que eu aprendi a combinar bem todas as coisas que me permeiam. Ver muitas coisas, o tempo todo, me faz acumular diversas referências, que no momento certo irão me auxiliar na criação de meus produtos.
Antigamente, eu acreditava que a criatividade não fazia parte de mim e que eu tinha de me esforçar demais para ser criativa. Foi extremamente libertador entender que todo mundo que é criativo tem que se esforçar, acumular referências e saber fazer a combinação certa para não ser mera cópia alheia.
Agora que você já sabe que ninguém cria nada do zero e que a criatividade é o resultado de suas experiências, referências e inspirações combinadas de forma inteligente, liberte-se também! Mas lembre-se de sempre usar as suas referências com sabedoria e muito respeito ao trabalho do outro.